Depoimentos - Você no Mundo do Trabalho

"Palavra cretina essa: invalidez... Inválidos são os que, de plena posse de todos os seus movimentos, mantêm a vida paralítica dentro deles, e só pensam em paralisar a dos demais".
Vinícius de Morais


Depoimento de Assistente Social da Reabilitação Profissional
* Floriscena Maria Medeiros é Assistente Social do INSS há 25 anos. Formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora, conta sua experiência "Algumas questões me parecem centrais ao discutir o tema Reabilitação Profissional. Em primeiro lugar, a luta histórica para mantê-la como responsabilidade do Estado, enquanto programa social, cujo objetivo é resgatar a capacidade de trabalho de seus segurados, "acionistas" que são da Previdência Social, e, portanto, recuperar o seu poder de contribuição.
A Previdência Social tem caráter contributivo. Porém o objetivo deste programa de proteção social ao trabalhador não se encerra aí. Neste sentido, é preciso estar atento às concepções sobre a categoria trabalho que atravessam a sociedade capitalista, e, por conseguinte, atravessam a nós mesmos, nossa história particular e a formação profissional de cada um de nós. Logo após ingressar na Instituição e ser lotada no então Centro de Reabilitação Profissional, meu primeiro aprendizado foi constatar que era imperativo que eu tivesse claro a partir de qual matriz eu buscaria compreender o lugar que o "trabalho" ocupava na minha vida, o lugar que a Instituição/Estado lhe reservava e o lugar que cada trabalhador lhe atribuía. Sem perder de vista que a Reabilitação Profissional constituía e constitui para este trabalhador privado temporariamente da sua plena capacidade de trabalho, o direito histórica e coletivamente conquistado de descobrir e investir em novas formas de realização e expressão criativa.

Outra questão refere-se aos paradigmas e modos de gestão da Reabilitação Profissional e seus reflexos na precarização das formas de atendimento, brilhantemente explanado pelo professor e sociólogo entrevistado no vídeo, Paulo Roberto Leal. Observa-se que, paralelamente à precarização das relações de trabalho e ao surgimento das novas formas de adoecimento decorrentes do processo de reestruturação produtiva, a partir dos anos 80, inversamente os Centros de Reabilitação vão perdendo a capacidade de responder às demandas da classe trabalhadora, cada vez mais complexas. Se a resposta não deve ser a condenação à condição de invalidez, como forma de enfrentamento pelo cidadão às nefastas condições de destruição da força humana de trabalho, também não pode ser a de omissão por parte do Estado frente aos trabalhadores adoecidos, mas que apresentam condições de reverter seu quadro e buscar novas formas de enfrentamento.
Por fim, a importância de registrar a história da Reabilitação Profissional em Juiz de Fora está na possibilidade de evidenciar sua busca em estabelecer uma relação dialógica com outros órgãos e segmentos da sociedade local. Exemplo disto são os projetos extensionistas em parceria com a UFJF, através da Faculdade de Serviço Social, Departamento de Psicologia, Faculdade de Educação e Secretaria Municipal de Educação.O Projeto de Ações Coletivas da Reabilitação Profissional, este, extinto em 2006, buscava romper com o olhar pontual, ampliando a análise e intervenção para a abordagem dos processos coletivos de adoecimento, comprometido com respostas capazes de contribuir também para a prevenção.
O projeto de avaliação psicopedagógica tem como premissa que reeducar para o trabalho deve transcender o mero adestramento. Outra parceria importante foi, e continua sendo, com o MTE através da subdelegacia do Trabalho, fundamental na mediação entre empresas e trabalhadores, principalmente nas readaptações decorrentes de doença/acidente do trabalho".

Floriscena Maria Medeiros

Assistente Social