terça-feira, 17 de novembro de 2009

Você no Mundo do Trabalho - Depoimentos 4


 

"Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias..."
João Guimarães Rosa





Depoimento de Assistente Social da Reabilitação Profissional
* Ana Amélia Dato Teixeira é Assistente Social do INSS há 25 anos.


Descentralização


Ao longo de um quarto de século como servidora da Reabilitação Profissional do INSS/Juiz de Fora vivenciamos as repercussões dos projetos políticos aplicados às políticas públicas, particularmente no que se refere ao direito à saúde e previdência, e imbricada nestas duas esferas a Reabilitação Profissional.

Dentre estas repercussões gostaríamos de abordar a dicotomia reabilitação física X reabilitação profissional promovida como uma das medidas da Reforma da Previdência. Até 1990 o segurado era atendido por uma equipe multidisciplinar, que de maneira conjunta atuava no resgate do seu potencial físico, psíquico e sócio-profissional. O tratamento fisioterápico concomitante à discussão de um novo projeto profissional não só agilizava o programa, como constituía um recurso que motivava o segurado a empenhar-se no tratamento, na medida em que os ganhos físicos lhe permitiriam a identificação do seu potencial laborativo residual e manter-se ativo, visualizando um projeto de reconstrução da sua identidade como trabalhador.

O ideário da descentralização traz em si características de participação democrática, favorecimento do controle social e atendimento às necessidades da população de acordo com as peculiaridades regionais. No entanto, na prática não foi o que constatamos, na medida em que a operacionalização das ações foi repassada sem o preparo de uma estrutura mínima para arcar com a nova demanda e sem o correspondente repasse financeiro, para que o município arcasse com esta nova frente.

O resultado não poderia ser diferente. A diretriz do Reabilita previa o atendimento ao segurado com quadro físico definido, ou seja com o tratamento realizado, as seqüelas instaladas e sem perspectiva de novos ganhos na funcionalidade do membro lesado. No entanto, exceto os segurado que dispunham de convênio através das empresas conseguiam realizar o tratamento e alcançar a definição do quadro físico.

As dificuldades de acesso ao tratamento, muitas vezes descontínuo, as longas filas de espera, tanto no que tange à reabilitação psicofísica quanto ao benefício previdenciário e à própria reabilitação profissional, via de regra, contribui para um quadro irreversível, agravado pelo descrédito nos serviços público, cronificação das patologias, e inevitável acomodação à inatividade, a partir do distanciamento e rompimento dos laços sociais e afetivos com os colegas da empresa.

A experiência de trabalho nos leva a defender a Reabilitação física-profissional como interfaces de um mesmo processo, concomitantes e imprescindíveis para a reintegração do cidadão na vida social e no mundo do trabalho de maneira participativa.



Ana Amélia Dato Teixeira

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