segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Você no mundo do trabalho - Depoimentos 3




"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem".

Brecht
 


Depoimento do Médico Perito do INSS, José Lúcio Ferraz de Abreu


Depoimento de um reabilitador

"Na base de sua teoria evolucionista, Charles Darwin colocou a luta pela vida, segundo a qual em cada espécie animal existe uma permanente concorrência entre os indivíduos. Somente os mais fortes e os mais aptos conseguem sobreviver e a própria natureza se incumbe de proceder essa seleção natural.
O homem no ápice dessa pirâmide pôde intervir com seu cabedal de conhecimentos o destino de seu semelhante para reintegrá-lo na sociedade reabilitando-o para o trabalho com dignidade social.

Na minha formação, como médico ortopedista, no hospital que trabalhei no Rio de Janeiro, como residente o tratamento cirúrgico das lesões do aparelho locomotor eram a meta principal embora a complementação fisioterápica também fosse muito considerada.

O Professor Dr. Jorge Faria, recém chegado da Inglaterra já tinha a noção da recuperação plena do sequelado objetivando a sua reintegração no mercado de trabalho, já que naquele país a mão de obra qualificada foi muito lesionada durante a guerra.

O Hospital Barata Ribeiro, tinha um serviço de fisiatria, de ótimo padrão e nos casos mais complexos tínhamos o apoio da ABBR.

Após a residência trabalhei em vários hospitais, mas não com a filosofia e as metas do Dr. Jorge Faria.

Alguns anos depois fiz concurso para o INSS indo trabalhar no CENTRO DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL do INSS. Nessa casa reencontrei o espírito pleno e a doutrina do meu antigo mestre posta em prática com o refinamento de uma equipe multidisciplinar altamente capacitada e competente que foi durante alguns anos o referencial de um serviço de excelência em Juiz de Fora.

As políticas sociais e a reestruturação do sistema de saúde e previdência dicotomisaram essa parceria entre o tratamento físico e o sócio profissional o que pôs fim a um trabalho de primeiro mundo.

A Reabilitação profissional segue com sucesso o seu objetivo, mas sob o olhar de um ortopedista menos jovem perdeu o charme e a eficiência de antigamente".

*José Lúcio Ferraz de Abreu
Médico Perito do INSS, GEX Juiz de Fora

4 comentários:

  1. Parabéns ao colega de Reabilitação Profissional, Dr. José Lúcio, pela iniciativa de dar seu depoimento nesse blog sobre o Trabalho e Reabilitação Profissional.
    Gostaria apenas de reiterar que o charme e a eficiência realmente se perdem por aí nas Políticas atuais de reintegração do segurado no Mercado de Trabalho e justo em época que a tecnicidade adoece tanto. Mais que essa perda pessoal, acredito, é a falta de comprometimento de outros profissionais e das Políticas Públicas com vistas ao Mundo do Trabalho e em consequência com o da Reabilitação Profissional.
    Por isso, nos cabe,reinvindicar mais eficência dos defensores destas mesmas políticas.
    Angela Maria Corrêa Ribeiro - Fisioterapeuta.

    ResponderExcluir
  2. Como membro da equipe "Mundo do Trabalho", quero agradecer o apoio que estamos recebendo de todos os profissionais envolvidos no processo de Reabilitação. É gratificante saber que podemos contar com a experiência de profissionais como o Dr.José Lúcio, e nossa companheira fisioterapeuta Angela.Todas as profissões direcionadas ao mundo do reabilitado, persiste na tarefa diária de buscar o melhor, pouco a pouco, com a proposta de elaborar métodos que correspondam ao objetivo que se quer atingir: A esperança de um novo começo.

    ResponderExcluir
  3. Acompanhando os depoimentos dos segurados entrevistados, bem como de companheiros da Reabilitação Profissional de longa jornada, ficam para mim algumas questões que merecem reflexão. A primeira delas refere-se aos laços afetivos que vão sendo construídos ao longo do percurso, sem os quais as relações no trabalho se tornariam insuportáveis, tamanha a aridez que marca o espaço burocrático. Vejo também com bons olhos a afetividade expressa na relação profissional/segurado que se traduz nos depoimentos de gratidão e reconhecimento, e que de fato nos humaniza nos desafios do exercício cotidiano. O acolhimento, o respeito pelo outro, a escuta qualificada e competente, o diálogo capaz de desvendar novos horizontes explícitos ou implícitos na fala de todos, denunciam um projeto que se contrapõe a um modelo tecnicista, à lógica da mercantilização dos serviços e direitos sociais arduamente conquistados, às práticas clientelistas e ao individualismo que sempre conduzem à relação hostil, descompromissada e negligente com a população trabalhadora.
    Outra questão diz respeito ao protagonismo desses reabilitandos no resgate de sua capacidade de tomar de volta para si seu projeto profissional, devidamente orientados por profissionais eticamente comprometidos com a superação da doença, das perdas e das seqüelas decorrentes. A capacidade de luta de um lado e o respeito à singularidade de outro, constituem prova evidente de que a força humana de trabalho ainda que maltratada, ainda que submetida a condições perversas de exploração, é passível de se recompor, contrariando a cultura do capital que teima em tratá-la como “sucateada”, expressão que muitas vezes é assimilada pelos trabalhadores ao perderem sua identidade nos processos de adoecimento, quando não, equivocadamente reproduzida por suas representações.
    Avançando para um terceiro ponto que nos faz pensar, temos que, para além das habilidades, competências e compromisso ético do profissional, bem como da capacidade de enfrentamento e superação do indivíduo, os processos fragmentários e dissociados de prevenção, tratamento e recuperação, a impunidade, a inconseqüência, a naturalização dos processos de adoecimento no trabalho, configuram-se na perpetuação da cumplicidade com a chamada “fábrica de doenças”.

    ResponderExcluir
  4. Após um contato com a competente Angela Correa,tive conhecimento deste site.
    Interessante,pois pessoas ligadas a profissão fora do contexto da reabilitação ,se unem e buscam um aprendizado,sob novo olhar,com objetivo nobre para entender,qualificar,discutir e aprimorar a assistencia nesta area tão importante da saude humana.
    Sou medico pediatra, e ano passado aventurei-me num projeto politico.Entre as linhas mestras do programa havia um projeto de criar-se em JF um centro de reabilitação profissional publico de alto nivel.
    A necessidade e a possibilidade do Homem ,de viver melhor,faz desta area uma importante via de ação para a obtenção de um viver melhor,pois dá a ele a chance de uma volta honrosa a vida.
    Acresço a complexidade deste tema onde uma discussão mais amplificada pode mostrar a perda dos parcos recursos publicos.Neste segmento ter perdas financeiras por má verssação dos recurssos pode produzir danos incalculaveis a quem precisa de uma reabilitação de qualidade.
    É obvio que o dano central é sempre daqueles que mais precisam de atendimento tecnicamente correto ,comprometido ,humanizado e equanime.
    Assim ,vejo este espaço com possibilidades de criar uma nova via de entendimento,que leve a viabilização de ações eficazes no seu resultado final.
    Sugiro uma discussão em maior ambito do que seria um nucleo publico ,voltado a estas necessidades.Um entendimento melhor do que é "realmente uma reabilitação profissional". Quais agentes permeiam este cenario ,reagudizados na dor e no sofrimento que estas situações produzem nas pessoas.
    É necessario reconstruir com otica repaginada os caminhos de sucesso e bem estar que outrora foram proporcionados e desfrutados por todos que se aventuraram nesta missão de ir onde parece impossivel, e tornar possivel as mudanças ,somente porque ousou-se tentar.Parabens!
    Antonio Aguiar

    ResponderExcluir