domingo, 30 de maio de 2010

Depoimentos - Você no Mundo do Trabalho 9

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
 Arnaldo Antunes

Depoimento da Assistente Social Floriscena Maria Medeiros

Antes de mais nada, gostaria de expressar meu reconhecimento a todos os envolvidos na produção do Blog e do documentário sobre a reabilitação profissional em Juiz de Fora. À equipe do Blog, Camila, Haber e Rita, pela dedicação de cada um, dentro de suas possibilidades psico-socio-profissional, a essa difícil empreitada, que foi investir com compromisso e ética nas suas respectivas formações profissionais, ao mesmo tempo dando voz e vez àqueles servidores públicos que atuam direta ou indiretamente na área e aos segurados.
    Meu reconhecimento se estende também aos colegas, companheiros de longa jornada, que perseveram na luta pela ética e qualidade no serviço público e que não hesitaram em dar seu testemunho, mesmo ciosos dos limites e atropelos que encerra uma produção especialmente direcionada à conclusão de curso acadêmico.
    Ainda, aos segurados que compartilharam suas histórias, verdadeiras lições de coragem e capacidade de enfrentamento e superação, fatores determinantes em grande parte do resultado exitoso de seus respectivos programas de reabilitação profissional.
    Lamentavelmente, sabemos que esse “final feliz” não é a realidade de muitos dos que buscam os serviços previdenciários. Afinal, como afirma a segurada Telcy em seu depoimento no documentário, “é você que faz a sua história”. Mas vale lembrar o velho Marx: você não a faz sozinho, tampouco a partir, exclusivamente, da sua vontade. Essa assertiva remete minhas reflexões ao encontro promovido pela Fundacentro/SP e CEREST (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) de Piracicaba, do qual participei a convite da Socióloga, Dra. Mara Takahashi, em dezembro de 2009.
    O referido evento envolvia a participação também da Escola de Enfermagem da USP, Gerência Executiva do INSS de Piracicaba, diversas outras prefeituras, e representantes da Universidade de Sherbrooke, Canadá. Foram apresentados os modelos de Reabilitação Profissional de Piracicaba e de Sherbrooke, com vistas ao estabelecimento de Convênio, conforme consta da entrevista realizada pela equipe do Blog com a Dra. Mara,  no dia 28 de março deste ano. Mas, o que me leva a resgatar tal iniciativa é o fato de que as temáticas trabalhadas nas oficinas espelham, para além das particularidades dos setores ali presentes, o quadro de problemas e dificuldades comuns à realidade vivenciada em Juiz de Fora, e, certamente, também em nível nacional.
    Penso que vale registrar para o leitor as adversidades com as quais se deparam servidores e usuários dos serviços de saúde e previdenciários, de tal forma que possa contribuir para a ampliação e aprofundamento do debate desencadeado pela Fundacentro e CEREST Piracicaba, sob a liderança das ilustres estudiosas e militantes Dra. Maria Maeno e Dra. Mara Takahashi, defensoras de uma política pública de saúde do trabalhador e de reabilitação profissional. Dentre os problemas abordados destacamos: a demanda reprimida nos serviços de saúde; o desconhecimento pelos profissionais da rede sobre as principais questões referentes aos acidentes de trabalho e doenças profissionais; dificuldades sérias na preparação (física e emocional), concessão e treino de órteses e próteses; a ortopedia que não tem se mostrado uma especialidade resolutiva para o tratamento de problemas de LER/DORT e lombalgia; os trabalhadores acidentados e adoecidos do trabalho das grandes empresas são atendidos pelos convênios médicos e clínicas privadas de reabilitação física, apresentando baixa resolutividade; as repercussões de ordem emocional são desconsideradas e não há programas terapêuticos para as famílias; não há articulação com os CRASs (Centro Regional de Assistência Social); não há articulação com INSS; a Perícia Médica do INSS não acata procedimentos terapêuticos dos profissionais da rede e sobrecarrega o sistema SUS com exigências periciais de exames de imagem; falta de capacitação no modelo social de incapacidade e no uso da CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade).
    O rol de problemas elencados, dentre outros, foi objeto de debate com vistas à superação de um modelo precarizado, fragmentário, com viés privatista, buscando como alternativa a implementação de ações interdisciplinares e interinstitucionais com foco na prevenção da incapacidade permanente ao trabalho. Ou seja, a iniciativa apresentada naquele encontro demonstra que pode ser possível uma outra leitura da realidade que não aquela que nos é apresentada como definitiva e irrevogável.
    Afinal “é preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo” (Gramsci)

2 comentários:

  1. Antônio Henrique de AlcântaRA11 de junho de 2010 às 14:06

    é com muito prazer que deixo aqui meu depoimento, pois em 1986, sofri um atropelamento, na cidade onde moro Juiz de Fora e após o atendimento de emergência no hospital, tive alta, eu tinha sofrido uma lesão traumatica de plexo braquial e uma fratura exposta da tibia esquerda, após 60 dias imobilizado, fui liberado para exercicios e fisioterapia, tive a sorte de ter sido encaminhado para o CRP- centro de reabilitação profissional do inss, la encontrei uma equipe de médicos, assistentes social, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiras, atendentes emfim todo um pessoal que apesar das limitações estruturais do centro, sempre nos proporcionaram tanto a mim, quantos aos reabilitandos que ali se tratavam, um tratamento e um atendimento da melhor qualidade, tanto que me recuperei com sequela sim, mas reabilitado para exercer praticamente as mesmas atividades, tanto pessoais quanto profissionais de antes do acidente. Tenho a lamentar que todo este trabalho que era desenvolvido, hoje ja não existe mais, um dos motivos é o desmanche que o governo promove em nossa previdência social onde ele se queixa do rombo, mas abre brechas para a sonegação e corrupção, haja visto que quando existiam os centros de reabilitação o envio dos pacientes a clinicas de reabilitação particulares conveniadas era bem menor e em contra partida o atendimento e a reabilitação dos pacientes se dava de uma forma muito mais rápida e eficaz e com isto refletia em custos.Deixo aqui meu muito obrigados a todos daquele centro de reabilitação que tanto me ajudaram a dar a volta por cima e hoje estar totalmente inserido no mercado de trabalho.

    Muito obrigado

    Antônio Henrique de Alcântara
    Juiz de Fora- Mg

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  2. Antonio Henrique,
    Obrigada por sua contribuição, a qual nos incentiva a persistir nesta nova empreitada, socializando experiências e buscando alternativas de espaços democráticos .
    Espero que continue acomanhando e participando.
    Floriscena

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